Uma estreia pouco notável

Ricardo

 

Ricardo Young*

Ao longo dos meus quase 60 anos, vivenciei momentos que me permitem afirmar que a política no Brasil pode ser tudo, menos monótona. No movimento estudantil combati uma ditadura militar. Anos depois, vi o Brasil eleger, para depois tirar de lá, seu primeiro presidente escolhido por eleições diretas. Acompanhei um governo de coalização, capitaneado por Itamar Franco, que uniu o país e o entregou para Fernando Henrique Cardoso como uma bola na marca do pênalti: era só chutar para fazer o gol. Ele fez.

Depois veio a era PT. A miséria diminuiu, o país cresceu. Mas não foram as benesses, e sim as falhas, que nos trouxeram para onde estamos. Depois de uma saga desesperada pela manutenção do poder, o Brasil tem hoje uma presidente afastada e um presidente em exercício. Fato novo. Merece um capítulo a parte nos livros de história.

Para dois presidentes, dois olhares. Primeiro o impeachment de Dilma. Neste caso, sabemos que funcionaram as instituições. Concorde-se ou não com o resultado, o discurso de golpe não combina com a imprensa livre acompanhando as instituições no seu pleno funcionamento.

Para Michel Temer, reservo o olhar de apreensão. Nosso atual chefe de Estado estava na chapa da afastada Dilma Roussef. Pesam sobre ele as mesmas suspeitas de uso de dinheiro ilícito na campanha. Se isso for comprovado, e tudo indica que será, ele estará tão comprometido quanto ela. Enquanto isso não for esclarecido, esse governo estará sempre em suspensão.

No mais, como cidadão e político, nutria a expectativa de que Temer cumprisse a promessa de um ministério de ‘notáveis’. Poderia fazer um governo de transição com absoluta credibilidade, com a possibilidade de tomar medidas que, mesmo impopulares, teriam apoio.

Mas não. Fez acordos partidários. Chamou nomes que não tem necessariamente competência para ocupar os ministérios em que estão.

Em seu primeiro ato apresentou um elenco fraco, que não está à altura do papel que precisará desempenhar. O remédio, por hora, não oferece alívio à nação. Ao contrário: aumenta a apreensão. Só nos resta torcer para que as páginas que Temer pretende escrever sejam melhores que o primeiro parágrafo. Que venham linhas preenchidas de mais espírito público e menos ganância do que as que o precederam.

* Ricardo Young, 59, é vereador de São Paulo pela Rede Sustentabilidade e foi presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social.

Artigo originalmente publicado Gazeta Regional do dia 14 de maio de 2016.

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